Há pouco menos de um mês, ela foi a vereadora preferida pelos saltenses nas eleições 2024, com 3.591 votos. Mãe atípica e afetiva, advogada, ativista, Graziela Costa Leite, mais conhecida como Dra. Grazi, é uma advogada especializada em direito da saúde.
Ela fica à vontade na entrevista: contato com a mídia não lhe é estranho, já foi entrevistada e pauta diversas vezes, como mãe de um filho portador da Atrofia Muscular Espinhal (AME), uma das doenças mais raras do mundo. O fato fez com que ela se tornasse ativista em prol das famílias que buscam remédios e atendimento de saúde para seus filhos.
Em 2020, ela conseguiu que o Governo Federal custeasse o remédio Zolgensma, considerado o remédio mais caro do mundo, com cada dose custando quase doze milhões de reais.
Um quadro na recepção de seu escritório mostra a Garota Destemida, que encarou o grande touro de Wall Street, em Nova York. É assim, afrontosa, que ela chega à Câmara de Salto: sabe que incomodar faz parte do jogo. Mas também tem humildade para dizer que tem muito a aprender.
Confira, a seguir, entrevista completa.
Por que você acha que as pessoas que votaram em você, qual a expectativa delas?
Eu acho que eu trago junto comigo uma narrativa de mulheres, né? A luta contra a desigualdade de gênero e me veem como uma pessoa destemida, corajosa e que também representa mudança. Então, eu sinto que a população me fez a mulher mais votada da cidade em decorrência disso, de conhecer toda a minha trajetória para chegar até aqui. Eu já vivenciei três eleições vivenciadas, além de todo um histórico de campanha com o meu pai, que foi vereador.
Uma das campanhas eleitorais foi para deputada. Você pretende se candidatar novamente, em 2026?
Vai depender muito do povo. Estou no legislativo para compor com mais dez colegas de Câmara. Acredito muito na sociedade mais justa, onde existe um sistema paritário, onde homens e mulheres caminham juntos. Desta vez, conseguimos duas cadeiras para as mulheres, eu e Luzia Vidal. Chegaram a falar que nós íamos discutir cor de batom na Câmara, mas há 8 anos que nós não tínhamos uma mulher na Câmara, então eu acho que alguns pagaram para ver, né?
E eu vou iniciar agora como protagonista dessa história, espero conseguir ser a voz da população. Mas nesse momento eu me vejo como a missão de ser uma vereadora e de ser uma ótima vereadora. Eu preciso trabalhar bastante, conhecer todo o legislativo, eu preciso conhecer o regimento interno de uma Câmara, eu preciso conhecer muito a lei orgânica desse município para dar esse retorno à população. Então, hoje, eu me sinto aí com um compromisso, com a missão, eu falo. É aquela pessoa que ganhou o prêmio na loteria, e agora o que eu faço? Primeiro, eu preciso entender, juntamente com o povo, fazer um mandato coletivo e ir avançando. Porque eu muito gosto da política, isso é fato.
Você está realizada…
Eu estou feliz e realizada com a missão que foi dada nesse primeiro momento, de ganhar uma eleição e representar as mulheres. Ser advogada é o meu ganha-pão, o que sustenta a minha família, é o que estudei, me preparei e capacitei para ser uma boa advogada e graças a Deus eu consegui. Agora eu preciso ser uma boa vereadora. Eu não vim para ser uma vereadora de requerimentos, de nome de rua, apenas isso. Quero cumprir minha missão, deixar um legado…
Você foi eleita com uma votação tão expressiva justamente porque você já tinha esse histórico de lutadora que, como mãe, como advogada, como representante dessa comunidade saltense. Como você acha que, como vereadora, você vai continuar representando e lutando por essas pessoas, por essas mesmas causas?
Acredito que mais de 50% dos votos que tive vieram dessa população, dessas famílias que buscam realmente a justiça social e principalmente a priorização de uma saúde de qualidade, de uma educação de qualidade, uma educação de qualidade, que sonha com um futuro melhor. Então, essa luta eu vou levar para dentro do legislativo municipal e espero também estar dando voz para o estadual, porque muitas das pautas que nós temos são federais e já tenho agenda para Brasília, dia 9 de novembro. Então, nós temos alguns compromissos que eu não vou faltar com esses compromissos. A luta municipal é grande, mas a luta também perante o estado e a União, a aquisição e liberação de medicamentos de alto custo, pessoas com doenças raras e tratamento para autistas. Essa eu não posso falhar, não posso faltar com aqueles que sempre acreditaram no meu projeto.
Você foi eleita no grupo do prefeito eleito Geraldo Garcia…
Olha, o Geraldo eu conheci melhor em outubro do ano passado e assim que conheci, eu avaliei todos os outros candidatos que estavam pré-candidatos a prefeito e me posicionei. Eu falei, Geraldo, sou uma pessoa de decisão e posicionamento. Nunca gostei de ficar em cima do muro. O que eu espero agora é apoio recíproco às mulheres da cidade, a valorização cada vez mais da mulher, a participação da mulher na política, a participação da mulher dentro dos setores de decisões. Então, ele se comprometeu com isso, com essa diversidade, com a importância da inclusão. E é isso que eu espero dele agora, né? Nós estamos vivendo um retrocesso social dentro da cidade. E esse avanço depende muito dos legisladores. O papel do vereador é fundamental nessa construção com o Executivo. Então, nós dependemos muito dele para que esse avanço aconteça.
A população renovou quase 80% da Câmara. Como você vê isso?
Ah, eu vejo positivamente, né? Tinham vereadores aí que eram ativos. A gente reconhece e não desmerecemos ninguém. Mas eu fico pensando, poxa, mais de 30% não votaram, não se sentiram representados de fato para saírem das suas casas e irem votar. Nós precisamos trabalhar muito isso. Os políticos precisam demonstrar realmente a responsabilidade para a população.